Existir é suficiente

Uma vez minha psicoterapeuta me disse que não precisamos ficar procurando respostas que justifiquem o fato de não estar bem, que às vezes não estamos bem e ponto. Concordo com ela, essa minha mania de racionalizar tudo me deixa exausta.

Quando o papel se inverte e eu sou a psicoterapeuta, vou mais afundo e procuro voltar o olhar do atendido para o que ele está sentindo afinal, o estado de humor reflete a sua disposição, ou melhor, a forma como a pessoa se encontra no mundo. 

Reconhecer tal disposição é fundamental para compreender que a mesma afetará a forma como sente, percebe e lida com a realidade. Nesse sentido, se estou angustiada, triste e desanimada, meu olhar ficará mais cabisbaixo, enxergarei apenas uma parte restrita da realidade e, por consequência, estarei limitada em minhas manifestações comportamentais.    

Por outro lado, quando estou feliz e com bastante energia, minha visão torna-se mais ampla e clara, meu horizonte de possibilidades se abre, aumentando minha liberdade existencial. 

Há alguns meses fui diagnosticada com Depressão. Mediante o acompanhamento psicoterapêutico, iniciado há quase três anos, percebemos que se trata de um tipo de depressão de grau leve a moderado, que não me impede de fazer minhas tarefas cotidianas mas, que afeta muito meu dia a dia, portanto, decidimos fazer o devido tratamento com medicamento e desde então tenho me sentido bem melhor. Contudo, ainda estou em adaptação/transformação e há momentos nos quais me sinto muito mal, hoje é um dia desses. 

Ainda não sei como lidar com tudo isso, uma coisa é ser profissional da saúde mental e cuidar de pessoas depressivas, outra é você descobrir que o seu modo de ser não é completamente saudável, que sua alma está doente. 

A primeira reação das pessoas, quando souberam da minha condição foi: "e o seu trabalho, não está afetando?". Sou muito grata por conseguir trabalhar, aliás, o trabalho sempre foi minha válvula de escape e minha maior fonte de satisfação, se não fosse por ele, não sei como estaria.

Ainda há muito para ser (re)conhecido, (re)aprendido e compreendido mas, por enquanto, me permito viver as dúvidas e incertezas, por mais difícil que seja. 

Em última análise, enfrentar um transtorno mental na pele me fez ser ainda mais sensível à minha dor e a do meu próximo. Me fez reconhecer que a existência é repleta de beleza, mesmo quando está em sofrimento. Que preciso continuar atribuindo sentido às coisas para que as mesmas façam sentido para mim. Que devo honrar cada emoção, pensamento e sentimento que tenho pois, cada um deles me conectam a realidade onde habito.

Existir é suficiente. 

"Ando devagar porquê já tive pressa e levo esse sorriso, porquê já chorei demais..."  

   

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